'É com profundo pesar que comunicamos o falecimento do Padre Josiah Asa K’Okal, que estava desaparecido desde ontem, 1 de janeiro de 2024', lê-se no comunicado dos Missionários da Consolata da Venezuela.
Por Júlio Caldeira *
Tinha 54 anos de idade, 30 anos de profissão religiosa e 26 anos de sacerdócio. Ao mesmo tempo, a mensagem pede “a misericórdia do Senhor para ele e consolação para todos nós, familiares e conhecidos”.
Conhecido como “Baré Mekoro” (Pai Sábio), Padre K’Okal nasceu no Quênia (África), chegou na Venezuela em 1997, onde mais tarde obteve a nacionalidade venezuelana pela sua dedicação e serviço ao povo. Nos últimos anos, dedicou a sua vida missionária ao serviço dos povos indígenas Warao e das pessoas mais pobres do Delta Amacuro. Numa mensagem publicada nas redes sociais, a Congregação exprime o seu luto e a sua esperança na vida eterna: “Querido irmão, que a tua alma descanse em paz. Obrigado por tanto amor a esta terra venezuelana, obrigado por seres um grande missionário. Que Maria Consolata te guarde entre os seus eleitos”.
Desde 1997 trabalhou em várias opções e serviços missionários na Venezuela: Animação Missionária e Vocacional (AMV), pastoral Afro e paroquial em Barlovento; Pastoral e AMV em Barquisimeto, Pastoral Indígena em Nabasanuka e Tucupita; serviu também na congregação como administrador, conselheiro, vice-superior e superior da Delegação dos Missionários da Consolata na Venezuela. Na sua grande dedicação ao povo Warao, desde 2006, dedicou tempo ao estudo da língua e da cultura do povo, acompanhando mesmo a sua “migração” para muitas regiões da Venezuela e do Brasil, devido à crise que o país está atravessando. Em 2022, concluiu o Mestrado em Antropologia na FLACSO, no Equador, sobre a migração Warao ao Brasil, tendo como título: “Entre a vulnerabilização e a resistência estratégica: o caso dos deslocados Warao em Boa Vista”.
Desaparecido no dia 1 de janeiro, o Padre foi encontrado morto em Guara, no estado de Monagas (Venezuela). Ainda não há notícias do seu funeral (assim que as tivermos, atualizaremos esta nota).
GRANDE TRAJETÓRIA MISSIONÁRIA E COMPROMISSO COM O POVO WARAO
Perante a sua morte inesperada é possível reconhecer o amor com que tratou o povo venezuelano e a missão onde esteve. Muitas mensagens chegaram de várias partes da Venezuela e do mundo.
As Pontifícias Obras Missionárias da Venezuela enviaram uma mensagem recordando que o Padre K’Okal “tornou-se apóstolo e irmão do povo Warao, com o qual viveu a maior parte da sua vida sacerdotal. Esteve sempre atento às suas necessidades e foi um companheiro nas suas lutas. Resta-nos a melhor lembrança de um missionário alegre que sabia acolher a todos para oferecer conforto e proximidade”.
Do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) do Brasil foi enviada uma mensagem de reconhecimento ao padre Josiah, como “uma das pessoas com maior tempo de trabalho com o povo Warao, contribuindo muito no Brasil com grupos pastorais e agentes, também do CIMI, para conhecer a realidade deste povo, o contexto de sua mobilidade para o Brasil e ajudou com propostas de trabalho”.
A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) emitiu uma nota de condolências reconhecendo “o seu intenso processo de encarnação e compromisso com estas comunidades e realidades envolventes levou-o a colaborar em maior escala na equipa de coordenação internacional do Núcleo dos Povos Amazônicos da REPAM. O seu desaparecimento e morte repentina no início deste novo ano assusta-nos e entristece-nos, pois perdemos um dedicado zelador e defensor dos nossos povos e realidades amazônica. A REPAM lamenta a partida do querido Padre Josiah e se solidariza com sua família, com a família dos missionários da Consolata e com as comunidades com as quais ele conviveu”.
BOA VIAGEM, “BARÉ MEKORO” K’OKAL
Um dos seus companheiros de missão na Venezuela, o Padre Juan Carlos Greco, que agora acompanha o povo Warao no Brasil, escreveu uma mensagem emocionante e significativa, que expressa os sentimentos de muitos de nós que vivemos com o “Baré Mekoro” (Pai Sábio):
“Não podemos dizer que é um dia bom! Mas um dia triste! Um dia em que o melhor a fazer é lamentar e calar. Um dia para recordar com gratidão! Um dia para trazer boas recordações e conselhos que o “Baré Mekoro” nos deu! Um dia para imitar os exemplos! E silenciar algumas palavras que possam incitar sentimentos contrários a tudo o que K’Okal nos ensinou nas famosas Escolas ou Oficinas de Perdão e Reconciliação!
Rezem por ele! Rezem pela sua família! O melhor é deixar que o eco de tantas sementes lançadas por “Baré Mekoro” dê o tom da música de Consolação! Silenciar e escutar o coração! Talvez este seja o momento para isso e nada mais! Unimo-nos em oração! K’Okal, boa viagem!