Foi uma troca de experiências entres os jovens dos diferentes países, estados e regiões.
Por Philip Njoroge
Durante a Segunda Missão Jovem na Região da Amazônia, organizada pelos Missionários da Consolata no final de fevereiro e início de março de 2017, jovens missionários que vieram do México, Chile, Brasília entre os quais se encontravam duas leigas consagradas e jovens das regiões da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e Surumu, acompanhados por cinco padres visitaram comunidades indígenas localizadas na divisa do Brasil com a Guiana Inglesa e Venezuela na Região das Serras - Maturuca, cerca de 315 quilômetros da cidade de Boa Vista.
No dia seguinte após da sua chegada em Boa Vista, 23 de fevereiro de 2017, os jovens dos outros países e de Brasília embarcaram numa longa viagem até a comunidade de Maturuca, localizada a sete horas de carro da capital do estado de Roraima, onde os padres Philip Njoroge e James Murimi e o irmão Francisco Bruno, missionários da Consolata, estão trabalhando. Ao desembarcarem no centro regional da Região das Serras, conhecido como Maturuca, os missionários jovens foram recebidos com festas e danças típicas indígenas.
O grupo dos jovens acompanhado pelos cinco padres (Joseph Musito da Região da Raposa, Joseph Mugerwa da Região de Surumu, Garcia de Maranhão e capelão em Boa Vista, James e Philip da Região das Serras) começou a sua caminhada dos encontros com os jovens em Maturuca. A caravana seguiu para centro Willemon, centro Caraparu I e encerrou a sua experiência no centro São Mateus antes de retornarem para Boa Vista, no dia 4 de março, para viajar para suas pátrias e estados.
Os jovens aprenderam a dormir na rede, vivenciar os costumes, a rotina, o espírito de comunidade, a fé católica e a organização do povo Macuxi, uma das etnias indígenas ligadas a Região das Serras que se encontra na Raposa Serra do Sol formada pelas sub-regiões de Surumu, Baixo Cotingo, Raposa e Maturuca, ou seja, Região das Serras.
Foi uma troca de experiências entres os jovens dos diferentes países, estados e regiões. Aprenderam que apesar das diversidades das línguas, raças e etnias, o amor de Deus nos une como povo com o mesmo objetivo de defender a dignidade humana com seus direitos. As lideranças repassaram para os visitantes os conhecimentos no âmbito da saúde, educação, cultura, costumes e a história das suas lutas.
As lideranças apontaram que, além das influências positivas que os brancos levaram para as comunidades indígenas, os perigos que afetam os jovens em todo o mundo também chegaram juntos. A bebida, as drogas e a prostituição invadiram as aldeias e preocupam os líderes indígenas mais experientes. Diante disso, em 27 de abril de 1977, após assembleia organizada no Centro de Maturuca, que ficou conhecida como “ou Vai ou Racha”, foi decidida a proibição do uso e da entrada de bebidas alcoólicas e drogas no território indígena. Decidiram “Não à bebida alcoólica e sim à comunidade”. Padre George foi figura principal na organização e decisão desse encontro que trouxe grande vitória na conquista da Terra Indígena Raposa do Sol.
Os povos indígenas demonstraram aos missionários jovens, durante a semana, enorme gratidão que têm à Igreja Católica e aos primeiros missionários que pisaram em suas terras. Segundo os nativos, eles são os principais responsáveis pela luta e vitória na conquista de suas terras.
Os jovens passaram na escola de formação de Surumu para ver o episódio triste que os povos indígenas viveram no atentado ao Centro Cultural, uma escola integral que forma alunos no ensino técnico. Em 2005, o local foi queimado pelos indígenas seguidores dos fazendeiros e políticos, mas felizmente, ninguém se feriu.
Os missionários jovens encontraram nas comunidades um povo alegre, esperançoso e uma estrutura com agricultura, energia elétrica, postos de saúde e escolas, gerenciadas pelos próprios indígenas contrários ao que os políticos e a mídia apresentam ao mundo. Notaram a simplicidade dos povos indígenas e perceberam o quanto é preciso para ser feliz e que Deus realmente se revela nos pequenos, que ensinaram eles a reviver como os primeiros cristãos que tinham tudo em comum e dividiam seus dons com alegria, segundo as necessidades de cada um.
Após essa experiência de uma semana na Região das Serras, os missionários testemunharam que estar na Terra Indígena Raposa Serra do Sol trouxe em seus corações a certeza que Missão é muito mais que palavras ditas às pessoas. Missão é presença, é se envolver com a realidade. Foi uma alegria enorme para eles estar com o povo Macuxi feliz e tão acolhedor. Apesar de tantas lutas e sofrimentos esse povo ainda acredita em Deus todo poderoso, que se fez pequeno ao se manifestar ao povo Macuxi e os fez entender que nunca abandona seus filhos amados.