Encontro dos Jovens Yanomami: Valorizando Direitos Indígenas em Missão Catrimani

Mais de 60 representantes de 13 comunidades Yanomami se unem no quinto encontro para fortalecer a consciência sobre os direitos indígenas no Brasil, com foco na Constituição Federal de 1988.

Por Bob Mulega *
Fotos: Arquivo Pessoal

Durante os dias 22 a 26 de agosto, a região de Missão Catrimani desempenhou um papel central ao sediar o quinto encontro dos jovens indígenas, um acontecimento de imenso significado que reuniu mais de 60 representantes provenientes de 13 comunidades Yanomami. Este evento marcante contou com a presença de três diretores proeminentes da HAY Hutukara Associação Yanomami: Remo Yanomami da região Catrimani, Iramar Yanomami Xihopi e Ludian Yanomami Maxokopi. O foco primordial do encontro recaiu sobre a exploração dos direitos constitucionais do povo indígena do Brasil, com especial destaque à Constituição Federal de 1988.

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As atividades do evento tiveram início no primeiro dia, com a organização meticulosa do ambiente, incluindo os preparativos na cozinha, assegurando que tudo estivesse em perfeita ordem para os três dias intensos que se desenrolariam. Em 23 de agosto, a inauguração oficial ocorreu com uma cerimônia de boas-vindas cultural, de acordo com os costumes tradicionais Yanomami, conhecida como "himu". Durante este rito, os jovens realizaram danças que ecoaram a riqueza da cultura Yanomami, estendendo uma calorosa recepção aos novatos.

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Logo após, um momento de espiritualidade guiado pelo pajé Miguel, seguindo os costumes e tradições indígenas, foi conduzido. Essa prática evocou os espíritos para oferecer proteção e orientação aos participantes durante o encontro. Esse elemento de espiritualidade indígena foi incorporado respeitosamente no evento, destacando a riqueza cultural e espiritual dos Yanomami. Para contextualizar a relevância do evento, o padre Filbert compartilhou os motivos que levaram ao convite dos jovens, enfatizando a importância do entendimento dos direitos e responsabilidades inerentes aos cidadãos indígenas do Brasil.Jovens-Yanomami-Catrimani-3

A Irmã Mary Agnes, no primeiro dia, iniciou as atividades direcionando a atenção aos artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988. Empregando uma linguagem acessível aos jovens, elucidou o significado e a importância desses artigos, incentivando os participantes a memorizarem os seus direitos. Adicionalmente, a Irmã Mary revisitou três momentos cruciais na história dos povos indígenas no Brasil: a era pré-contato com os não indígenas, a chegada dos portugueses, a promulgação da Constituição de 1988 e o atual debate sobre o marco temporal.

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Após o almoço, os jovens receberam a oportunidade de registrar suas impressões em cadernos, fundamentadas no conhecimento adquirido sobre a Constituição e seus direitos enquanto povo indígena. No dia seguinte, 24 de agosto, o programa foi iniciado revisando os tópicos abordados no dia anterior, complementado por um vídeo que documentou a diversidade dos grupos indígenas do Brasil durante a promulgação da Constituição em 1988, ressaltando a emotiva sensação de finalmente serem oficialmente reconhecidos. O padre Bob discorreu sobre a condição dos povos indígenas pré-1988, sobretudo durante o período do regime militar, elucidando como a Constituição trouxe elementos essenciais para salvaguardar os direitos dos povos indígenas.

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Os jovens foram então divididos em grupos, permitindo a imersão nos parágrafos dos artigos 231 da Constituição, abordando aspectos como direitos originários, estrutura social, preservação cultural e direito à terra. Um grupo liderado pelo padre Filbert e pelos diretores da Hutukara expandiu a discussão a partir do vídeo protagonizado por Ailton Krenak, uma figura de relevo no processo constituinte e nas lutas indígenas. Após o almoço, foi realizada uma sessão plenária para debater os principais desafios enfrentados pelos Yanomami, tanto internamente como externamente, e a formulação de soluções – um tópico a ser retomado no dia subsequente.

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O dia 25 trouxe a projeção de um vídeo que exibiu manifestações de grupos indígenas de todo o Brasil em oposição à lei do marco temporal. Isso instigou um profundo interesse e curiosidade entre os jovens, impelindo-os a aprofundar a compreensão dessa questão. Alguns jovens partilharam as suas experiências nas manifestações. Posteriormente, os grupos reagruparam-se para analisar desafios internos nas respetivas comunidades e questões externas relacionadas à garantia deficiente dos direitos preconizados na Constituição Federal do Brasil.

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No encerramento do encontro, a Irmã Mary Agnes orientou os jovens a abordarem distintas situações sociais, sublinhando que várias abordagens estão à disposição dos Yanomami, inclusive caminhos mais árduos e os mais ligeiros, que simbolizam a diferença entre prosperar em sua terra, cientes de seus direitos e obrigações, ou enfrentar adversidades. O evento culminou com uma avaliação coletiva, onde cada participante compartilhou experiências e reflexões, seja de forma oral ou escrita.

No derradeiro dia, 26 de agosto, reservou-se para a redação de relatórios sobre o encontro e sobre a Hutukara, tarefa desempenhada pela equipe missionária e os diretores da Hutukara. Adicionalmente, os jovens receberam kits contendo itens essenciais para a vida quotidiana, além de gasolina para facilitar o regresso às suas comunidades.

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O quinto encontro dos jovens Yanomami revelou-se uma ocasião inestimável para impulsionar a conscientização sobre os direitos indígenas e fortalecer os laços entre as diversas comunidades, capacitando, ao mesmo tempo, os jovens a defenderem seus direitos e cultura num cenário global em constante mutação.

* Artigo Publicado por Padre Bob Francisco Mulega, IMC, em nome da Equipe Missionária da Missão Catrimani.