Missionários da Consolata inauguram polo “Culturas e Missão”

Museu e Centro de Animação valorizam e devolvem à população de Turim o patrimônio cultural conservado na Casa Mãe IMC desde a fundação do Instituto em 1901. Inauguração aconteceu em 19 de abril com a presença do prefeito de Turim, Stefano Lo Russo.

Por Redação

O projeto foi realizado pela Mediacor e iniciou em 2020 com a reestruturação de mais de 1200 m2 distribuídos em três andares da Casa Mãe dos Missionários da Consolata em Turim. O espaço inclui dois salões, três escritórios, uma cozinha, duas salas de projeção, auditório, laboratório e espaços de exposição. O visitante poderá fazer um percurso de 300 m2 durante o qual poderá ouvir a narração de diversas culturas e testemunhos sobre encontros com vários povos da África, Ásia, Américas e Europa.

Padre Stefano Camerlengo e Prefeito de Turum, Stefano Lo Russo na Cerimônia de cortar a fita de inauguração. Foto: Jaime C. Patias

Padre Stefano Camerlengo e Prefeito de Turum, Stefano Lo Russo na Cerimônia de cortar a fita de inauguração. Foto: Jaime C. Patias

O Polo Cultural CAM guarda centenas de obras etnográficas, fotografias, filmes e milhares de objetos conservados pelo Instituto que chegaram a Turim a partir de 1902 inclusive um rico acervo fotográfico e audiovisual.

Publicamos as palavras do Superior Geral, Padre Stefano Camerlengo, proferidas na cerimônia de inauguração do Polo “Cultures And Mission”

“O Bem-aventurado José Allamano, nosso Fundador, pedia sempre aos seus missionários que recolhessem objetos e testemunhos das culturas e religiões com que entravam em contato em todo o mundo. Deste modo, os missionários da Consolata constituíram, de fato, ao longo do tempo, vastas e interessantes coleções às quais se somam os conteúdos dos arquivos fotográficos e audiovisuais que, por sua vez, contêm um repertório documental enorme e extremamente fascinante.

consolata-inauguracao2

Com a inauguração deste Polo Culturas e Missão, finalmente, este patrimônio pode ser de novo partilhado com todos. É um dos presentes que queremos oferecer à cidade (Turim) em que fomos fundados há 122 anos.

Outro dom são os testemunhos do passado, mas também do presente, que os nossos missionários, os nossos voluntários leigos, as nossas Irmãs missionárias, podem oferecer à população de Turim e não só. Experiências de amizade, diálogo, fraternidade e solidariedade que podem dar esperança e encorajar todos, especialmente os mais jovens.

Como Instituto, decidimos colocar ao serviço deste projeto três missionárias que estarão à disposição das escolas, das associações, da cidade de Turim, da região do Piemonte e de todos os outros interlocutores institucionais, culturais, sociais e eclesiais que desejem colaborar em temas que para nós são prioritários: o conhecimento dos povos, das culturas e das religiões que faz crescer as relações e a colaboração; uma ecologia integral que é mais do que apenas ecologia; uma economia que respeita as pessoas e o ambiente e gera justiça.

consolata-inauguracao3

Sair, entrar e nascer de novo

Pensar neste projeto faz-me refletir sobre três verbos importantes para amadurecer na missão e aprender a viver a fraternidade: sair, entrar e renascer.

Poderão pensar que inverti erradamente os dois primeiros verbos, porque para sair de um lugar é preciso entrar nele… Mas não: é precisamente a saída dos nossos hábitos egoístas, da nossa passividade, dos nossos “padrões aborrecidos”, que nos obriga a encontrar o Outro. Esse Outro em quem reconhecemos o rosto de Jesus que, com a sua “criatividade”, nos renova e renova as nossas ações. O encontro com uma nova cultura, com novos rostos, com novas dificuldades, com novas necessidades, com uma forma diferente de ser Igreja, leva-nos a entrar numa nova dimensão de Vida e de Evangelho. Melhora as relações, as ideias, os conhecimentos, as atividades, mesmo pastorais, que vínhamos desenvolvendo até então, mas ao mesmo tempo lança-nos situações, dificuldades e necessidades que nos fazem tomar consciência de todos os nossos limites pessoais, incluindo muitas das nossas atitudes quotidianas.

Prefeito, Stefano Lo Russo, Padre Stefano e representante da Região do Piomemonte.

Prefeito, Stefano Lo Russo, Padre Stefano e representante da Região do Piomemonte.

A saída e o encontro que se segue ajudam-nos a perceber que, por vezes, o egoísmo se esconde até nas pequenas coisas que nos parecem normais e que, por vezes, chegamos mesmo a exigir. Sair de si mesmo aplica-se tanto a quem deixa materialmente o seu país para outra terra, como a quem fica, para compreender que o verdadeiro sentido da comunhão consiste em poder alegrar-se juntamente com o irmão nas coisas belas da vida. É também por isso que precisamos de uma Igreja com as portas sempre abertas, convidando-nos a caminhar ao lado daqueles que todos os dias e em todos os cantos da terra trilham os caminhos da vida com alegria ou com cansaço. Estar de portas abertas, aquele sentar-se no meio das pessoas, impele-nos a acolhê-las “sem se, nem mas”, e põe-nos a caminho num confronto sincero para ir ao encontro das pessoas. E “os outros” somos também nós que, por convenção, somos chamados missionários, mas que, na prática, somos evangelizados todos os dias por esses gestos simples da vida quotidiana que a comunidade nos oferece. A missão é um estado de espírito permanente do qual não se pode prescindir daquela alegria da Boa Nova que, mesmo através das ansiedades, das dificuldades, dos problemas, nos ajuda a compreender que a construção do Reino de Deus passa pelo nosso desejo de ir além da nossa humanidade, até ao ponto de nos sentirmos “mais do que humanos”.

E, finalmente, o terceiro verbo da missão: renascer. Essa saída permitiu-nos entrar numa nova dimensão de Vida e de Evangelho que nos transforma e nos permite renascer para uma vida nova todos os dias. Sair, entrar e renascer formam um caminho que todos nós vivemos desde o nascimento e é um caminho que se constrói todos os dias. Neste sentido, a formação missionária é um passo fundamental para cada comunidade.

Há muitos modos de viver a missão e todos são importantes; cada um certamente com um pouco de discernimento poderá descobrir qual é o seu. Nós, da Consolata, podemos dar testemunho daquilo que escolhemos: viver em fraternidade a missão com os mais pobres, partilhando a vida quotidiana e o Evangelho, com a convicção de que um outro mundo é possível se todos nos tornarmos corresponsáveis na construção do Reino de Deus nesta terra e criamos um espaço para o dizer, para o recordar, para construir o futuro.

consolata-inauguracao5

Plantar uma mangueira

Para concluir, deixemo-nos iluminar por esta história que nos convida a continuar, juntos e com esperança, a plantar árvores em gratidão pela humanidade e pela Casa Comum.

Aproximava-se a época das monções e um homem muito idoso cavava buracos no seu jardim: “O que estás fazendo?”, perguntou-lhe o vizinho. “Estou a plantar mangueiras”, respondeu ele. “Achas que podes comer os seus frutos? E ele respondeu. “Não, eu não viverei o suficiente, mas outros viverão e comerão. Outro dia, pensava nisso. Que toda a minha vida desfrutei de mangas plantadas por outros. Esta é a minha maneira de lhes mostrar a minha gratidão.

Confira alguns testemunhos em italiano