Partilhamos este relato do Padre Andrés García Fernández sobre a missão nas comunidades indígenas warao em Nabasanuka, Estado Delta Amacuro, na Venezuela.
Por Andrés García Fernández*
Caros amigos, querida família. Já se passou algum tempo desde que escrevi. Perdoem-me. Sei que estão preocupados e esperando notícias minhas e da missão.
Em Nabasanuka temos novamente Internet, mas o sinal é muito fraco e há muita gente conectada ao mesmo modem ao mesmo tempo. As vezes conseguimos receber mensagens após dias e depois não conseguimos enviar uma resposta. Isto ajuda-nos a viver na realidade e não na virtualidade e a cuidar das relações humanas e no tempo humano.
Quando consegui chegar a Nabasanuka em dezembro de 2021, após as férias, encontrei as comunidades divididas pelas estratégias políticas em torno das eleições, o que deixou feridas profundas nas pessoas e nas famílias. Muitas atividades tinham chegado a um impasse.
O que conta é a presença, consciente de que não posso chegar a todos os rincões, consciente do apelo a ser testemunha de Deus e do seu amor e bondade. Isso foi a coisa mais importante durante as festas de Natal nas visitas às comunidades a que pude chegar.
No início de janeiro pudemos realizar um encontro de formação para catequistas para os encorajar e retomar o programa pastoral. Quando regressei a Tucupita, na segunda semana de janeiro, tive o prazer de me reunir com os meus colegas de comunidade (o Padre Vilson, brasileiro, que está com os warao há cerca de 15 anos, e o Padre Beni, congolês, que está na Venezuela há três anos). Além disso, duas leigas missionária, Efrenny e Orla, juntaram-se à nossa equipe e já estão contribuindo muito para se inserirem na realidade warao.
O transporte continua sendo um dos grandes desafios para garantir a nossa presença, por isso passei algum tempo tentando arranjar uma velha “curiara” (barco) de alumínio que irá funcionar com um pequeno motor que chegou a Tucupita em meados de fevereiro.
Também passei tempo instalando uma estação de rádio e a sua antena em Tucupita, para comunicar com Nabasanuka. Em março vou tentar instalar a antena de Nabasanuka, pois faltavam-me alguns materiais.
Durante os dias que passei na comunidade em Tucupita, pintamos alguns espaços e tentámos tornar os quartos da Efrenny e Orla mais acolhedores. Passei muito tempo com a comunidade, a fim de começar a construir uma equipe com os novos membros.
Regressei a Nabasanuka (nos caños) no início de fevereiro, assumindo que não seria capaz de assegurar a continuidade do visto de estudante, porque isso implicaria outra ausência pouco antes do início da Quaresma, sacrificando mais uma vez a viagem às comunidades cristãs warao da nossa paróquia.
Formação de animadores
A estadia nos "caños" deu-nos desta vez possibilitou uma nova reunião de formação para os catequistas (preparação para a Quaresma e tomar consciência da nossa responsabilidade e dignidade como povo indígena na Amazônia), o lançamento da organização da visita semanal a cada setor (6 setores, de momento, cada um dos quais compreende 5 a 9 comunidades. Há ainda algumas comunidades a que chegarei mais tarde), terminamos a preparação para os sacramentos no setor de Yorinanoko e tivemos a grande celebração no dia 1 de março.
Ao visitar Yorinanoko todas as semanas, partilhei a dor e os esforços de várias famílias para salvar os seus filhos pequenos (com menos de 5 anos) da morte devido a uma epidemia de diarreia, febre, tosse, vômitos. Todas as semanas testemunhei a morte de uma ou mais crianças. Tentamos de tudo: medicina tradicional, hospital.... Conseguimos salvar alguns deles, graças a Deus.
Também tive a oportunidade de viajar para Puerto Volcán, em Tucupita, para transladar o corpo de Sibelia, a esposa de Ireneo, um casal de idosos que trabalhou na missão em diferentes áreas durante anos. Ela morreu em Tucupita e não havia nenhum barco para transladar o corpo a Nabasanuka, por isso viajamos de noite a fim de acompanhar de volta. Ser consolação, sinais da presença do amor de Deus na missão.
Estamos todos admirados por ver como a gasolina não se esgotou desta vez. Lembrei-me da história de Elias e da viúva: “o azeite não vai acabar, a farinha não vai acabar...”.
A visita a Araguaimujo no início deste mês de março permitiu-me encontrar os catequistas, embora brevemente, tempo para começar também a Quaresma com eles e partilhar o programa para o aniversário (97 anos) da fundação daquela missão histórica.
Na terça-feira, 8 de março, regressei a Tucupita, acompanhando pessoas doentes e outros passageiros que tiveram de viajar à negócios para a capital de Delta Amacuro. Uma forte chuva acompanhou-nos até ao porto, mas não houve ondulação, por isso, a viagem foi tranquila.
Agradecemos ao Senhor por tantas graças, por tantos dons e por tanta partilha. Agradecemos-lhe também por tornar esta missão possível por meio da vossa oração, amizade e solidariedade.
Que a Quaresma seja frutuosa para todos nós, para podermos desfrutar intensamente da alegre certeza da Ressurreição.