Não faz mal ter um coração sensível

Allamano era um homem de fé e muito afetuoso.

Por Francesco Pavese *

Que Allamano fosse um homem delicado, com um coração sensível foi confirmado por muitas pessoas que o conheceram, particularmente por aquelas que viveram com ele. Ele mesmo o admitiu, certa vez, quando teve que desligar do Instituto um estudante e confidenciou a um padre: “o Senhor me deu a graça de ser firme e de não afligir-me nestes casos. Devo somente comportar-me como se tivesse um coração duro, mesmo que ele não seja. Eu sinto e sofro também pelas pequenas coisas; especialmente quando se trata de ingratidões, não posso fazer menos que sentir; mas, depois me recomponho”. E concluia: “Não creio que seja mal ter um coração sensível...”
Um missionário lembra, que um ano, no dia de seu aniversário, depois de ter rezado e agradecido a Deus, Allamano disse umas palavras muito bonitas: “Desde a eternidade, Deus pensou em mim com amor!” E ao pronunciá-las, sem querer, manifestava a comoção terna e filial de seu coração cheio de reconhecimento por Deus. Um outro lembrava que, quando devia repreender alguém, sofria a ponto de não conter as lágrimas. Também as missionárias, apesar de notarem que Allamano era muito reservado, perceberam esta sua sensibilidade. Uma delas disse: “era um homem de fé, sensibilíssimo e afetuoso. Queria todo o nosso afeto; parecia que vivesse para cada uma de nós. O seu coração era todo de todas e todo para cada uma”.

Em definitivo
Nos primeiros tempos, as destinações das missionárias e dos missionários para a África, eram definitivas. Não se previa retorno à pátria, a não ser em casos excepcionais. Até porque, por ocasião das despedidas, Allamano não escondia a sua própria comoção e a demonstrava sem se envergonhar. Dizia: “Para todos vocês é dolorosa a distância, mas para mim também, que a cada ano vejo um partir... É como se perdesse uma parte de mim mesmo. Seria um grande sofrimento para meu coração se não acreditasse que é vontade de Deus que vocês partam”. Muito significativas são as palavras de uma missionária: “nas despedidas ele sofria ao ver seus filhos e filhas se distanciarem e admitia que não conseguia se acostumar com isso. O coração não envelhece”, dizia.
Durante a cerimônia de despedida de alguns missionários para a Tanzânia, depois de receberem o crucifixo das mãos dele que já estava mais idoso, um deles pediu a palavra para agradecer a comunidade e disse: “duas coisas me entristecem por deixar Turim: a venerada imagem da Consolata no Santuário e o venerado Fundador, que, pela idade avançada não verei mais sobre esta terra”. Estas palavras tocaram tanto o coração de Allamano que colocando a cabeça entre as mãos, se esforçava para conter as lágrimas; mas, assim mesmo, algumas delas deslizavam dos seus olhos, caindo sobre a capa.
Podemos nos perguntar: de onde  Allamano tirava a força para não se deixar dominar pela própria sensibilidade, também para fazer desta um motivo de crescente espiritualidade? É ele mesmo que responde: “Depois da santa missa, permaneço com o Senhor, em frente à Mãe Consolata. Com eles tudo se ajusta. Eles me consolam sempre, e me deixam sem vontade de procurar outros consoladores”.

* Francesco Pavese, imc, é missionário na Itália.