Ninguém notava seu sofrimento

Allamano sofria de enxaqueca, mas não se deixava abater.

Por Francesco Pavese *

Desde jovem, Allamano sofria de frequentes ataques de enxaqueca, indisposição não muito perigosa, porém, irritante, porque causa lancinantes dores de cabeça, que duram dois ou três dias seguidos e impedem de pensar. Dos testemunhos daqueles que o conheceram, todos afirmaram que durante os dias nos quais sofria com a enxaqueca, não se lamentava, se retirava em seu quarto e não importunava ninguém com seu sofrimento.
São significativas as palavras dos primeiros missionários: “era sempre bem discreto e mesmo quando tinha a enxaqueca, nunca colocava a mão na cabeça. Não fazia nunca notarem sua dor. Notava-se que estava com enxaqueca porque não podia manter aberto o olho”. Também seu empregado testemunhou: “o seu mal mais frequente e muito cruel era a enxaqueca. Não recebia ninguém e nem mesmo eu podia vê-lo, porque queria ficar sozinho”. E completou: “Allamano não perdia nunca a reza cotidiana do Ofício das Horas com os canonistas da catedral, exceto quando tinha a enxaqueca; mas nunca se lamentava e eu via que sofria com o seu olho quase fechado”.

Resignação
O que muito impressionava quem vivia com Allamano, era o espírito com que aceitava viver com o problema da enxaqueca. Não dramatizava, mas sabia acolher ensinamentos importantes para a própria vida. Ele mesmo, depois de dias da inauguração do Instituto, apontou a causa da enxaqueca, e fez esta confidência aos seus missionarios: “faz um pouco de tempo que não nos vemos por culpa da minha cabeça, porque a enxaqueca está um pouco prolongada. Quando ela chega, damos glória a Deus e constatamos o que somos: um nada perante o Senhor. Quando sofremos este mal, permaneçamos passivos e oferecemos ao Senhor a nossa fraqueza. Podemos fazer o bem e vemos aquilo que somos”.
Entendemos bem o espírito de fortaleza de Allamano diante destas palavas de uma missionária: “eu admiro a fortaleza heroica do padre Fundador no seu sofrimento físico. Delicadíssimo na saúde, tinha frequentes crises de enxaqueca. E continuava o seu trabalho e somente quando a intensidade do mal o impedia, se retirava no quarto com Deus, como ele mesmo dizia. Recordo-me que algumas vezes vinha ao Instituto antes da crise ter cessado. Somente pelos olhos se percebia seu sofrimento”.
Um último aspecto que merece ser notado. Até porque com esta indisposição, pela intensidade da dor de cabeça, tinha a possibilidade de pensar comprometida, Allamano se contentava de não ter a enxaqueca ao ponto de morrer. Dizia: “claro que preferia morrer sem estar numa crise de enxaqueca; daria no mesmo, mas quando se tem enxaqueca não se pode fazer nada, e o momento da morte é um grande momento, gostaria de estar bem, para me preparar bem para o grande passo”.

* Francesco Pavese, imc, é missionário na Itália.