Bem-aventurada Irene Stefani fez de sua vida misericórdia de Deus

Celebramos hoje, 31 de outubro, a memória litúrgica da Bem-aventurada Irene Stefani, Missionária da Consolata italiana que fez da sua vida missão de Deus como “Nyaatha”, mãe toda misericórdia.

Por Jaime C. Patias *

Nascida em Anfo, norte da Itália, a 22 de agosto de 1891, Irmã Irene foi uma das primeiras religiosas a entrar na congregação das Missionárias da Consolata, fundada em 1910, tendo sido recebida pelo próprio Fundador, o Bem-aventurado José Allamano (1851-1926). Logo após o noviciado, partiu para África, em 1915, onde trabalhou primeiramente na Tanzânia e depois no Quênia. Faleceu em Gikondi, com fama de santidade, a 31 de outubro de 1930, com apenas 39 anos, deixando um exemplo de dedicação que lhe rendeu o título de “Nyaatha”, mãe toda misericórdia. Foi beatificada a 23 de maio de 2015, no Quênia, país que em 1902 recebeu os primeiros quatro missionários da Consolata, dois padres e dois leigos, em Tuthu, região de Murang’a, habitada pelo povo Kikuyu.

Milagre da “multiplicação da água”

O milagre da “multiplicação da água” ocorrido por intercessão de Irmã Irene Stefani é de um significado profundo nas páginas de espiritualidade missionária. Aconteceu na Missão de Nipepe, norte de Moçambique, entre 10 e 13 de janeiro de 1989. Aquele país estava em guerra civil. Em Nipepe, um Centro Catequético acolhia 50 famílias de diferentes missões na Província do Niassa. Durante a formação dos catequistas, os padres Franco Gioda e Giuseppe Frizzi, IMC, e as missionárias da Consolata de Maúa invocavam a figura e obra da Irmã Irene. No dia 10 de janeiro, o vilarejo foi atacado pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) que fazia oposição ao governo. Os guerrilheiros obrigaram o Padre Frizzi a escolher um grupo de homens para carregar os bens roubados e acompanha-los até à sua base. Seguindo a tradição Macua, o padre sentou-se no chão, como sinal de recusa. Seguiu-se um longo impasse. Entretanto, as famílias que estavam trancadas e em silencia na igreja, com o passar das horas começaram a sentir fome e sede. Algumas mães começaram a dar às crianças a água benta da pia batismal. Outros também beberam. Porém, o reservatório escavado num tronco de árvore, e com capacidade não superior a seis litros, era insuficiente para dar de beber a tanta gente. Foi então que o povo se lembrou de pedir a intercessão da Irmã Irene, de quem tinham ouvido falar e aprendido a invocar em momentos de aflição. A água se multiplicou e foi suficiente para todos, até para lavar uma bebê recém-nascida. A “multiplicação da água” foi um milagre da Irmã Irene.

Por fim, os guerrilheiros partiram levando um grupo de catequistas como carregadores até à base. Mas, alguns dias depois, todos acabaram fugindo e regressaram a Nipepe salvos. Outro grande milagre de Deus por intercessão de Irmã Irene.

Exemplo de santidade missionária

Em 1913, Allamano enviou as primeiras 15 Irmãs da Consolata ao Quênia para trabalharem em comunhão com os missionários. Irmã Irene Stefani partiu em 1915 e primeiramente trabalhou na Tanzânia como enfermeira da Cruz Vermelha, durante a 1ª Guerra Mundial. A missionária chegou no povoado de Gikondi, no Quênia, em maio 1920, ou seja, 16 anos depois da famosa Conferência de Murang’a, que definiu a metodologia do trabalho nas missões. Irene foi exemplar na prática dos princípios dessa Conferência e fez dela o seu ideal na missão O seu programa de vida se resume assim: “Só Jesus! Tudo com Jesus, Nada de mim… Toda de Jesus… Tudo para Jesus… Nada para mim”. Assim se aproximou das pessoas levando-lhes o que o seu nome “Irene” significa: “plenitude da paz”, Shalom de Deus.

A sua proximidade com os catequistas os transformava em verdadeiros testemunhas do Evangelho feito estilo de vida. Irmã Irene também trabalhava na escola, mas era nas visitas às aldeias que ela se encontrava “com as pessoas e com as almas”, conforme costumava dizer. Por isso recebeu o nome de “Nyaatha”, mãe toda misericórdia, que tinha sempre algo para dar do pouco que dispunha, mas acima de tudo soube fazer de sua vida “missão de Deus” no coração do povo.

O cuidado com os doentes e a educação das crianças feito com caridade e misericórdia, completam a obra da Bem-aventurada. Era uma verdadeira tecedora de fraternidade universal e ad gentes. Como uma mãe, ela falava segundo o coração do ouvinte e utilizando linguagem e a teologia que sabia, realizou mais de 4.000 batismos.

A vida e a missão da Bem-aventurara Irene Stefani, lançam luzes para repensar a nossa missão hoje segundo o carisma herdado do Fundador. Ela é modelo de todos aqueles e aquelas que seguem o convite do Bem-aventurado Allamano de serem “santos missionários, santas missionárias”. Neste tempo de pandemia da Covid-19, em que a humanidade tanto necessita de caridade e misericórdia, pedimos a intercessão da “Nyaatha”, repetindo com Irene: “Só Jesus! Tudo com Jesus, Nada de mim… Toda de Jesus… Tudo para Jesus… Nada para mim”.

ORAÇÃO

Ó Deus, nosso Pai
que em todas as épocas chama criaturas frágeis para colaborar
na construção do vosso Reino de amor,
dai-nos o zelo ardente da Bem-aventurada Irene Stefani
para proclamar o Evangelho da salvação.
Lembrai-vos, Senhor, de seu trabalho incansável
para levar alívio em todas as situações de sofrimento.
E na sua compaixão de Pai, venha em auxílio das pessoas que lhe confiamos.
Pedimos isto por meio de Jesus Cristo,
e pela intercessão da sua fiel serva na missão. Amem

Bem-aventurara Irene Stefani, rogai por nós!

* Padre Jaime C. Patias, IMC, Conselheiro Geral para América.