Crianças Indígenas: "Grandes Professoras"

Por Jhonny González*

criancas-indigenas-professores-3As grandes mestras da alma são, sem dúvida, as crianças e, em particular, as crianças indígenas, esta tem sido a minha experiência no campo missionário. Com elas aprendi a valorizar muitas coisas nesta vida, como o sorriso, a capacidade de me surpreender, o trabalho, sim, com elas também aprendi essa virtude, e depois também a espontaneidade e a honestidade. Claro, não posso esquecer que elas também foram minhas primeiras professoras para aprender a língua que é falada em cada uma de suas comunidades indígenas, onde tive a oportunidade de ficar.

Gostaria de destacar algumas palavras-chave que marcaram minha vida com essas crianças e que descrevem minha experiência com elas. Aprendi muito mais, mas gostaria especialmente de enfatizar isso:

Patume ou "bondade"

As crianças Yukpa são cheias de bondade e sorriso, apesar das dificuldades externas a que estão expostas por viverem numa zona fronteiriça, sentem que "Kumoko" (Deus) não as abandona. Desde criança aprendem a se divertir com o que para muitos parece pouco, mas para elas é muito: não perderam a capacidade de imaginar e criar com o que as cerca. Elas também usam essa palavra para agradecer.

Aapajaa ou "Ouvir"

Com as crianças Wayuú aprendi a importância de ouvir, elas têm muitas coisas para contar, mas só se abrirmos o coração podemos realmente ouvi-las. A história de cada uma delas é feita de infinitas histórias e experiências. Não se trata de encontrar uma resposta imediata a tantas das suas preocupações que estão escondidas em suas histórias... a primeira coisa, também um valor missionário, é a escuta ativa.

Sennakamato ou "Trabalho"

Aprendi esta palavra com um povo indígena que amo muito, o povo Pemón. Desde cedo, as crianças acompanham os pais no trabalho Konuko e têm uma participação ativa nas coisas da casa. De manhã cedo, antes de ir trabalhar, eles e seus pais assistem à celebração da Palavra. Estão intimamente ligados na fé e na vida.

Namuara ou "Perdão"

As crianças Warao são a minha experiência mais recente, são crianças cheias de riso e bondade, e têm uma capacidade de perdoar rapidamente, brigam umas com as outras e em pouco tempo estão  novamente felizes, brincando no rio ou correndo de um lado para o outro no pátio. Elas também têm um lugar muito especial no meu coração.

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Todas essas crianças também foram minhas primeiras professoras da língua local. Elas faziam isso por diversão, às vezes me ensinavam mal, trocando o significado da palavra e tirando sarro de mim. Mas com risos e piadas vou muito mais longe. Não nego que muitas vezes me senti constrangido e frustrado, mas acredito que estar aberto para aprender, até com os mais jovens que zombam de nós, faz parte da humildade que o missionário deve ter.

É importante enfatizar que quando temos a oportunidade de ir em missão em algum lugar do nosso país ou além de nossas fronteiras, precisamos ser humildes, estar abertos ao novo, ter uma grande capacidade de admiração tendo em mente que não não sabemos tudo, muito menos que estamos ali apenas para ensinar quem não sabe, pelo contrário, estamos ali para aprender e crescer juntos como comunidade.

Deus tem sido grande comigo, tem sido fiel às suas promessas e encoraja minha vida para continuar sendo instrumento de Seu amor e consolação na terra. Encorajo você que lê estas linhas a se juntar à missão de anunciar a Boa Nova de Deus também aos povos indígenas, todos sairemos enriquecidos.

Não tenha medo de responder com generosidade ao chamado missionário que Jesus faz a cada um de nós batizados. Se sua saúde ou idade não permitir, ajude os missionários com uma oração para que o Espírito de Deus guie cada um de seus passos.

Diante de tudo que vivi, só tenho a dizer: Patume (Yukpa), Anayawachija (Wayuú), Waküpeman (Pemón), Yakera (Warao). Sencilamante, “Gracias”.

* Jhonny González é um jovem em formação no seminário IMC da Venezuela.