Experiência missionaria

Professo da Consolata dá testemunho de experiência missionária junto ao povo indígena Macuxi, em Roraima.

Por Adamo Fernando Valeque*

Não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos (At 4, 20). Quero fazer minhas essas palavras dos Apóstolos para partilhar um pouco do que vi, ouvi e convivi na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, região das Serras, “terra santa", como os nativos a chamam, em Roraima, Região Norte do Brasil. Além do que se fala nas mídias sociais e na imprensa, tive a alegria de caminhar junto com o Povo Indígena Macuxi durante dois meses, e durante este tempo tive o privilégio de partilhar a minha fé e experiência e aprender várias coisas que vão marcar minha vida missionária para sempre.

Encontrei um povo com sua cultura e seus usos e costumes, assim como dizia umas das lideranças (catequista) durante seu discurso no dia da minha despedida "onde for e a todos que encontrar, diga que encontrou um povo trabalhador, lutador e cristão, mas que sofre ameaças externas por ter recebido da parte de Deus esta terra santa, cobiçada por muitos".

Mais que nunca, o Povo Indígena Macuxi das Serras, é um povo muito especial, que luta pela proteção do seu território, que tem sido alvo de invasão de garimpeiros e fazendeiros. É um povo que sempre lutou e continua lutando e sempre chamando a atenção das autoridades e do povo em geral para que respeitem os seus direitos, garantidos pela homologação e demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

No aspecto pastoral e missionário, os Macuxi são basicamente cristãos católicos, embora existam outras religiões tradicionais. Pude presenciar que é um povo enraizado na Palavra de Deus e na fé cristã, fruto de uma longa caminhada junto aos missionários da Consolata, profetas de Deus nestas terras, que sempre lutaram e apoiaram os indígenas. Como resultado disso, o povo acredita que existem dois instrumentos essenciais que os orientam nas suas lutas: a flecha de varra, símbolo de unidade do povo e a Palavra de Deus, através da qual Deus se faz presente em seu meio. Para o povo Macuxi, foi a Palavra de Deus que os ajudou a tomar posse das suas terras, reconhecidas na portaria número 534, de 13 de abril de 2005, lei da homologação.

Durante o tempo curto que passei com eles, bastante significativo, pude ver o quanto o Povo Macuxi das Serras é missionário, expressando por meio de atos e gestos, a cooperação direta com os missionários da Consolata, vivenciando os valores do reino de Deus em seu meio. Por meio de cantos e hinos na língua materna Macuxi, expressam a sua gratidão a Deus por tantos benefícios que têm recebido. As crianças e os jovens são sempre orientados a respeitar as lideranças e lutar pela preservação dos seus valores culturais.

Encerro com uma expressão que se encontra na parede do Malocão (auditório comunitário) construído por ocasião da celebração da festa da homologação da comunidade de Maturuca, Centro Regional das Serras: “Nunca esquecer da luta pela nossa Terra Raposa Serra do Sol".

* Adamo Fernando Valeque, imc, é professo da Consolata.