'O Senhor me fez fraco em saúde, mas ainda tem paciência de me manter vivo. Eu não acreditava que fosse viver tanto!'
José Allamano
José Allamano, Fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata, quando ainda era vivo e falava aos seus missionários, não gostava de falar de si, mas de vez em quando deixava escapar alguma coisa de sua vida: recordações, piadas, relacionamento familiar, histórias coloridas... Cada mês, traremos algumas destas confidências para reescrever quase que uma pequena autobiografia, que José Allamano quer nos oferecer.
Por Giacomo Mazzotti*
Falarei do meu nascimento. O bom Deus decidiu me criar, me estabeleceu no tempo, no ano, o dia em que me deu para nascer, e outras circunstâncias. Nasci no dia 21 de janeiro de 1851, às 18h30. Fui batizado. Com certeza, rapidamente, um dia depois de nascido, fui batizado. Não acreditava que fosse viver tanto! Eu era o mais fraco de todos, e o Senhor se serviu de um vaso quebrado.
Eu não sabia o que gostava ou o que não gostava; com isso não quero fazer o panegírico, não estou ainda morto; mas é porque a minha boa mãe bastava que dissesse que não gostava de uma coisa, de repente ela me fazia tomar. Não cabe aqui fazer um elogio à minha mãe. Só acho que vocês devem saber que ela era doente quando lhe disse que desejava me tornar missionário: "não quero atrapalhar você – me respondeu – pense só se foi chamado, quanto a mim, não se preocupe!" Por sete anos ficou doente, afetada pela surdez e cegueira. Eu era seu intérprete nas confissões quando ia para casa, parecia impossível: tinha dois olhos perfeitos, mas não via; e eu me explicava fazendo sinais com a mão e nos entendíamos muito bem. Quando nossas boas mães vinham a Turim ou iam a alguma feira, nós, pequenos as esperávamos com ansiedade no desejo de receber um presentinho...
Não posso nunca esquecer um belo pensamento de minha mãe: "todos os meus filhos, daqui ou dali, estudarão e irão viver sua vida! Rezarão por mim? Mah! Rezarão, celebrarão aniversário... os outros todos me esquecerão, mas você nunca, rezas missa todos os dias, rezarás sempre por mim". Na sua morte, todos disseram que ela viu Nossa Senhora, de fato, deitada em sua cama, levantou-se e de braços erguidos exclamou: Oh, Maria Santíssima – depois sua bela alma voltou ao céu. Erámos três irmãos, um doutor, o outro advogado e eu. O advogado não tinha um braço, amputado em consequência de um forte estiramento enquanto tocava os sinos: o braço estava enredado à corda e os companheiros não se deram conta, continuaram a tocar sem ouvir os gritos do pobre, cobertos pelo som dos sinos, por isso o braço maltratado teve de ser amputado mais tarde. O Senhor me fez fraco em saúde, mas Ele ainda tem paciência para me manter vivo; eu não sou um colosso, mas já tenho enterrado muitos!