Família Consolata: amor fraterno

No Instituto todos se sentem e acolhem como irmãos (cf. Rm 15,7), interessam-se uns pelos outros, vivem a missão em unidade de intentos, fazem suas as alegrias, os sofrimentos e as esperanças. Esta comunhão é a “alma e a vida” da nossa Família. (Const. 15)

Por James Bhola Lengarin

As duas Direções Gerais, IMC e MC, escolheram o Bem-aventurado José Allamano como protetor para o triênio 2024-2026.

Esta escolha foi motivada por duas razões: em primeiro lugar, pela alegria e pelas expectativas depositadas no processo de canonização do nosso Pai Fundador, que chegou agora à sua fase final.

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Todos nós desejamos e rezamos para que, o mais rapidamente possível, se possa alcançar o tão desejado objetivo da canonização. E é precisamente para nos prepararmos bem para este grande
acontecimento que reservamos um tempo suficientemente longo para nos renovarmos, aproveitando as riquezas espirituais do nosso Pai através de um estudo profundo e sistemático da sua vida, das suas atividades e dos sonhos que ele trazia no coração para o futuro da nossa família.

Em segundo lugar, durante o triênio prepararemos também o centenário da morte do nosso Pai, que será celebrado em 16 de fevereiro de 2026. Já lá vão cem anos desde a sua morte, mas
continuamos a senti-lo junto de nós com a sua presença paterna, responsáveis por manter viva a herança do seu exemplo de vida sacerdotal rica de humanidade, de zelo pelas almas e da
profunda espiritualidade que nos transmitiu, para ser atualizada na vida e na missão. De fato, estamos convencidos de que devemos fazer memória das nossas raízes como única garantia de
futuro para a nossa família missionária.

Depois da celebração do 14º Capítulo Geral e das assembleias continentais pós-capitulares, estão sendo realizadas as Conferências das Circunscrições para programar a vida e a missão para os
próximos seis anos. Como participante e ouvinte atento destas assembleias e conferências, chamou-me a atenção a referência constante a um dos valores mais importantes que Allamano
nos transmitiu a nós, seus filhos: o amor fraterno como prioridade fundamental e incontornável para nos tornarmos uma família de consagrados.

O Pai Allamano gostava de repetir: “É preciso fogo para ser Apóstolo” (VS [edição italiana] 460). Ele exprimia bem esse “espírito” que devia animar os seus filhos. Esse mesmo fogo ardia
nele e tinha-o levado a fundar o Instituto. Se não ardemos, não faremos nada: “O fogo é o zelo, ‘o caráter próprio do Missionário’, pelo qual fazemos nossas as palavras de Paulo, o Apóstolo
dos Gentios: ‘Tudo faço por causa do Evangelho’ (1 Coríntios 9,23). Allamano reforça a ênfase: “Tudo, tudo! Vou-me gastar e sacrificar.”

O amor fraterno é o caminho para chegar à união com Deus e à santidade. É precisamente nesta reciprocidade de amor que se experimenta a presença e a união com Deus, e a comunidade de
vida consagrada torna-se então o “espaço humano habitado pela Trindade, que assim prolonga na história os dons de comunhão próprios das três Pessoas divinas” (Vida Consagrada 31).

Estimados Irmãos, José Allamano recebeu do Céu o mandato de fundar este Instituto missionário que lhe era particularmente caro e pelo qual deu tudo de si, sentindo pelos
missionários os mesmos sentimentos de apego que Paulo tinha para com os Filipenses, chamando-lhes “meus filhos muito queridos e muito saudosos” (cf. 4,1). Por conseguinte, para
ele era fundamental o “espírito de família”, fundado na entreajuda, em carregar os fardos uns dos outros, em deixar-se apoiar e acompanhar pelos irmãos, como nos ensina a Palavra de Deus
e a vida das primeiras comunidades cristãs.

O Padre Pedro Trabucco, nas suas notas para os exercícios espirituais, recorda-nos que: “A comunidade constitui uma importante ajuda à fidelidade. Nela o missionário sente-se acolhido como
um discípulo empenhado em seguir o Mestre e encontra uma abundância de meios para facilitar o seu crescimento em todas as dimensões da vida. Foi o próprio Deus que me concedeu o dom dos
irmãos, para me apoiarem no caminho de fidelidade a Deus, seguindo a vocação específica que recebi através do carisma do Fundador. A presença desses irmãos é para cada um de nós uma força, uma garantia e uma autêntica bênção. Cabe-nos a nós tirar o máximo proveito da comunidade, aproveitando os muitos meios que ela oferece. Não é difícil enumerá-los: a oração em comum, a
comunhão de vida, a Eucaristia, a Palavra de Deus, a correção fraterna, os momentos de recreio”.

A vida comunitária IMC é a “domus nostra et locus sanctificationis nostrae, ubi laudaverunt te patres nostri”. (A nossa casa e o lugar da nossa santificação, onde os nossos pais te louvaram,
(Vulgata, Isaías 64,11).

Envolvidos por este calor humano, pela comunidade, realiza-se em nós o pequeno projeto de vida atribuído a cada um pela Providência, para participar plenamente no grande projeto divino.
É um caminho de santidade certamente não limitado às pessoas consagradas e às fraternidades religiosas, mas para todos. O Novo Millennio Ineunte (NMI) dedica-lhe todo o capítulo IV e
propõe-no vivamente a toda a Igreja, como algo desejado por Deus e que responde às expectativas do mundo: “Fazer da Igreja casa e escola da comunhão: eis o grande desafio que
temos diante de nós no milênio que começa. Antes de projetar iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade de comunhão” (NMI, 43). Tudo isto nasce do amor: “É preciso
ter tanta caridade até ao ponto de dar a vida. Amar o próximo mais do que a si mesmo, deve ser o programa de vida do missionário” (VS 461).

"A comunidade é uma família. Vejamos: a festa da Sagrada Família foi instituída para honrar Jesus, Maria e José juntos como membros de uma família: o modelo das famílias. Certamente Leão XIII, ao instituir esta festa, tinha em mente as famílias cristãs, mas também queria que as famílias religiosas fossem formadas a partir deste exemplo” (VS 343).

“São Pedro, na sua primeira carta, escreve: Acima de tudo, perseverai na mútua caridade uns para com os outros. Considerai estas palavras: caridade mútua, caridade contínua, caridade acima de tudo” (VS 404).

Caríssimos, faço minhas estas palavras do nosso Pai Fundador, convidando-vos apaixonadamente a viver a caridade entre nós a todo o custo, porque somos uma “família” na qual todos se acolhem como irmãos, se interessam uns pelos outros, vivem a missão na unidade de propósitos, fazem suas as alegrias, os sofrimentos e as esperanças de todo o Instituto, com um forte sentido de pertença (cf. Const. 15) na forma de vida religiosa consagrada e na profissão dos conselhos evangélicos. Este empenho é concretizado por nós na fraternidade ad vitam para a missão, que para Allamano é um ideal tão grande que deve ser assumido radical e totalmente, orientando tudo para ele: existência, espiritualidade, opções e atividades (cf. XIV CG, 26).

Num mundo em ruínas, se não defendermos os valores que nos foram deixados pelo nosso Fundador, sentir-nos-emos desenraizados e incapazes de transmitir calor humano e consolação.

Enquanto a missão avança, caminhando com os povos, ao lado dos pobres, na realização de projetos e na pastoral, não esqueçamos nunca a advertência de S. Paulo: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, serei como um bronze que soa ou um címbalo que tine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e possuísse a plenitude da fé de modo a transportar montanhas, mas não tivesse caridade, nada seria. E ainda que distribuísse todos os meus bens e entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, de nada me aproveitaria.” (1 Coríntios 13:1-3).

Se cada família nasce como realização de um projeto de amor, também o Instituto que o Beato Allamano fundou há 123 anos não é senão a realização de um tal projeto. Era sua convicção íntima que o Instituto devia ser e permanecer sempre “família” se não quisesse perder a sua identidade. Não esqueçamos nunca este ensinamento do nosso Pai sobre o amor recíproco, sobre o “espírito de família”, que se resume em algumas das suas convicções que todos conhecemos bem e que, no início do “triênio do Fundador”, quero reiterar:

“O Instituto não é um colégio, nem mesmo um seminário, mas uma família. Sois todos irmãos; deveis viver juntos, preparar-vos juntos e depois trabalhar juntos durante toda a vossa vida. No Instituto devemos formar uma única coisa, uma única massa” (VS 405); “Como é belo estarmos todos juntos, não como estátuas num museu, não como prisioneiros, mas como irmãos na mesma casa, formando uma única família!” (VS 406).

Celebrando a memória do nosso Fundador, desejo que sejais como o pão partido para os outros, dando cada um o seu contributo para viver um autêntico amor fraterno nas nossas comunidades.

Caros missionários, confiemos à Consolata o caminho deste triênio e também a nossa constante e intensa oração pela canonização do seu amado filho José Allamano, o nosso Beato Fundador.

Uma recordação especial vai para os missionários idosos e doentes, a quem agradecemos, porque vivem o amor fraterno, no coração da nossa Família Missionária, intercedendo por todos nós, com a oração e o sofrimento.

Feliz Dia do Fundador para todos e cada um de vós.

Desejo-vos a todos uma santa Quaresma, que nos prepara para abraçar o Ressuscitado!

* James Bhola Lengarin, imc, é Superior Geral dos Missionários da Consolata.