Por todos os povos

Assembleia dos Povos Indígenas em Roraima discute defesa do território e ameaças aos direitos adquiridos. 

Por Izaias Melo Nascimento*

Com o tema “Defender os territórios é garantir a vida dos Povos Indígenas”, foi realizada a 51ª Assembleia Estadual dos Povos Indígenas de Roraima, entre os dias 11 e 14 de março de 2022, no Lago Caracarana, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, localizado no município de Normandia.

Na Assembleia estiveram presentes os povos Macuxi, Wapichana, Yanomami, Waiwai, Cariña, Warao, (os povos indígenas Cariña e Warao são venezuelanos que se estabeleceram em Roraima e foram convidados a participar) Igaricó e um convidado do povo Kaigang, do sul do Brasil.

Também estiveram presentes, vários apoiadores da causa indígena e representantes do governo. Participaram aproximadamente 1.200 pessoas.

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Temas abordados

Foram ricos momentos de discussão, abordando os temas de território, sustentabilidade, política partidária, invasões, defesa e aliança coletiva em favor dos direitos indígenas frente ao autoritarismo do governo brasileiro e ameaças às terras indígenas (garimpo, grilagem de terras, hidrelétricas, monocultura, termoelétricas), saúde e educação.

Como resposta às ameaças e ao contexto que se vive em todo o Brasil, além da Assembleia Estadual também foram apresentadas algumas iniciativas como a criação dos agentes indígenas de proteção ambiental, territorial, direitos e comunicação, com o fim de fortalecer a resistência dentro dos territórios já homologados. Disseram não aos Projetos de Lei (PLs) que pretendem liberar as terras indígenas para a exploração. Outro ponto foi a reafirmação dos tuxauas em apoiar a deputada Joênia, esperança de voz indígena no cenário político brasileiro.

A Assembleia foi um sinal de esperança, em meio a tantas dúvidas, dúvidas essas vividas pelos próprios indígenas, pois muitos tuxauas dão a entender que não estão pensando coletivamente, colocando em cheque a unidade dos povos e terra já homologada.

O Encontro ajudou a fortalecer a unidade dos Povos Indígenas, alinhar o discurso, e a fortalecer o objetivo comum: “lutar pela defesa do território e garantir a vida de todos os povos, inclusive povos não indígenas”. Segundo o CIR (Conselho Indígenas de Roraima), o estado conta com mais de 70.000 indígenas, unidos na luta para garantir o território, que significa ter floresta preservada e um ambiente saudável. A Assembleia indígena é um símbolo da resistência a todos os projetos predatórios que ameaçam a vida.

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Segundo os Povos Indígenas, não é necessário explorar a terra, devemos reconstruir o cordão umbilical que nos uneà mãe natureza, devemos fazer alianças com as instituições que a preservam, como por exemplo, o Fórum de Energia Renovável de Roraima, fortalecer o projeto do gado, criando uma pecuária sustentável nas comunidades, pois somando todas as cabeças de gados, a Terra Indígena de Roraima tem mais de 50.000 cabeças de gado, fruto do projeto político, organizado pela Igreja: “Uma Vaca Para o Índio”. Os indígenas têm clara a importância dos parceiros, segundo eles, esses são os apoiadores na luta contra as ameaças, os que alimentam a esperança na luta pela defesa do território, garantindo a vida a todos os povos.

* Izaias Melo Nascimento, imc, é missionário em Roraima, RR.