Paróquia e igreja

Paróquia de Santa Margarida, em Curitiba, PR, vive sonho escatológico pós-concílio Vaticano II e continua ativa, mesmo em tempos de pandemia.

Por Mario Canisio Steffens

Quando terminou o Concílio Vaticano II os sinos tocavam e os alto-falantes anunciavam grandes novidades para o povo de Deus.

Falar-se-ia a língua do povo, se estaria de frente para o povo e com o povo; a Igreja “Corpo Místico” caminharia lado a lado com a “Igreja Povo de Deus”, e juntas formariam uma só, buscando ser uma só mente e um só coração.

Grandes maravilhas Deus fez no meio de seu povo:

  • Padres começaram a sair das casas paroquiais, a envolver-se nas mais distintas realidades. Em muitos lugares, a periferia tornou-se o centro.
  • Lideranças leigas começaram a surgir, entusiasmadas dos novos espaços que, prazerosamente, a Igreja lhes oferecia.
  • Ministros da eucaristia, diáconos permanentes, ministros da palavra, catequistas, comissões e comitês comunitários surgiam por todos os lados, nessa recém-terra fertilizada formando campos a perder de vista.

E a igreja cresceu! E as igrejas se encheram! E novos templos se construíam por todas as partes, em todo o mundo! O entusiasmo era contagiante!

Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Pastoral Operária, Pastoral da Juventude, Pastoral Universitária, Pastoral Carcerária... Leitura Orante da Bíblia, Grupos de Reflexão, Renovação Carismática Católica (RCC)...

O crescimento numérico, no entanto, parece que não foi acompanhado tão palpavelmente por convicções e compromissos dos milhões (bilhões?) de batizados. Uma Igreja cheia, mas muitos corações e cabeças vazias. Vazias de convicções, vazias de compromisso, vazias de fé encarnada e ações transformadoras. Cheias de gente que se comprometia a “assistir” à missa, literalmente! E começaram a buscar shows! Igreja bonita, então, para muitos, passou a ser aquela que oferecia o maior número de atrativos e “coisas diferentes”.

Vivendo o dia a dia

Este todo pós-conciliar faz parte do contexto da paróquia Santa Margarida, em Curitiba. Vivemos o sonho escatológico, o já e o ainda não.

Investimos especialmente nos pequeninos. A catequese é o xodó, pois é a esperança da Igreja. Sem a conquista das crianças, nas mais diversas etapas da preparação para a primeira eucaristia e a crisma, sabemos que estamos condenados ao fracasso dos templos vazios em poucas décadas. E vejam que bonito: na pandemia, os pais assumiram preparar os filhos para a primeira eucaristia, ou seja, dar a catequese aos filhos. Os catequistas mandam quinzenalmente um roteiro para que eles, com seus filhos, montem um altar com símbolos e trabalhem os conteúdos sugeridos. Mandam registros fotográficos aos catequistas para “contar” como foi o momento. A catequese remota está sendo uma experiência bonita, desafiadora e talvez transformadora. A pandemia nos está mostrando talvez o verdadeiro sentido da expressão pós-conciliar que mostra a família como Igreja doméstica, pais catequizando os filhos.

Além da catequese, a paróquia continua viva em outros momentos e instâncias durante a pandemia. Se não podemos frequentar fisicamente nossas igrejas, o fazemos virtualmente. As celebrações são transmitidas por Faceboock e Youtube (Numa campanha interna conseguimos mais de 1.000 subscrições em questão de um mês, para que a imagem e o som nas mídias sociais fossem de melhor qualidade). E a comunhão? Drive Thru, com toda proteção e segurança! Feita em todas as comunidades, os ministros da eucaristia cuidam de que não falte o alimento eucarístico, onde comungamos por uma vida em comunhão.

Os desafios da igreja local

A comunidade das comunidades é feita por pessoas de boa vontade. O trabalho voluntário, a doação alegre e generosa são características de nossos líderes. As pastorais e movimentos são sementes encarnadas do Verbo no dia a dia das comunidades.

Não obstante, com os entraves ideológicos (políticos e religiosos) às vezes percebe-se um embate mudo. Não crescemos mais porque nos medimos, pesamos e limitamos pelo que vão pensar, dizer ou fazer.

A divisão política também perpassa nossas comunidades. Elas também são formadas por pessoas que votaram na direita ou na esquerda.

Temos também a divisão religiosa, daqueles que defendem que fé e vida não se separam, e que, portanto, é necessário falar, lutar, engajar-se para transformar a realidade, falando e discutindo esses temas na igreja; mas também há os que defendem que na igreja se vai para rezar e louvar a Deus; as outras coisas não competem à instituição, portanto ali não se deve falar de política nem de problemas sociais.

Reuniões online, domínio de novas ferramentas midiáticas, mostrar que o amor às pessoas é manter o distanciamento social... Estes são, talvez, os maiores desafios reais desses “novos tempos”.

Assim, superar o limite da escassa formação de muitíssimos agentes de pastoral se faz necessário. Lidar com um celular ou um computador para fazer uma reunião online ainda assusta. Ora, pois, o celular não era só para fazer e receber ligações? Muitos estão descobrindo só agora que já não é assim que o mundo funciona. Mas a boa vontade supera as limitações, e o Reino de Deus cresce também em meio à pandemia e ao isolamento social.

As alegrias da Igreja local

Nos conforta e alimenta a resiliência de nossa gente. A pastoral da terceira idade, com seus bordados, crochês e bazares (agora suspensos) faz a alegria dos mais sábios de nossas comunidades. Os jovens, entusiastas, não perderam essa característica, fazendo campanhas online para arrecadar roupas para crianças pobres; a catequese paroquial arrecadou alimentos para repassar para a pastoral da caridade, que monta cestas básicas para famílias carentes... O círculo virtuoso faz a corrente do bem girar.

A criatividade não para. Sem poder celebrar as festas dos padroeiros, não obstante foi feito o tríduo, novenas e terços nas famílias. Os CAECs e a Pastoral do Dízimo se engenharam e conseguiram que também financeiramente não perecêssemos; afinal, as contas continuam chegando todos os meses!

O carinho aos padres da paróquia e do seminário, todos estrangeiros, se faz sentir através de quitutes que as famílias, amorosa e generosamente preparam para fazer chegar até eles.

Parodiando o título de uma recente obra famosa, os bons não podemos nos cansar. Afinal, como já diziam os precursores da não violência ativa, o que preocupa não é a força dos maus, mas a indiferença dos bons.

* Mario Canisio Steffens é formado em Letras, Filosofia e Teologia. Atua como professor e formador de lideranças na Paróquia Santa Margarida, Curitiba, PR.