Após estudos de teologia e um breve período de missão junto aos povos indígenas de Roraima, José Brás foi ordenado sacerdote na Amadora, e partirá este ano para Moçambique
Por Fátima Missionária
Quando esperava que já não acontecesse, realizou-se. Aos 50 anos, o missionário da Consolata José Brás foi ordenado sacerdote. Aconteceu na Igreja Paroquial de Nossa Senhora Mãe Deus, na Buraca, Amadora, por imposição das mãos de Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa, no passado dia 19 de março. Depois de uma licenciatura em física, do trabalho numa embaixada e depois como formador, José Brás considerava que a sua formação e o seu emprego o teriam levado para longe do antigo sonho de ser sacerdote. Um dia disseram-lhe que as portas estavam abertas. Não hesitou.
A vida de José Brás começou em Cabo Verde, mas ainda cedo, aos cinco anos, rumou para Lisboa com a sua família. Tem mais cinco irmãos. Em jovem, após o ensino secundário, fez uma licenciatura em física, que conta que “foi uma paixão”. Após a licenciatura foi trabalhar para a Embaixada de Cabo Verde em Lisboa, como técnico de informática, e depois foi formador e coordenador de cursos numa escola de formação da indústria metalúrgica e metalomecânica. “Fui formador em matemática, física, química, e também materiais, englobando também questões mais administrativas e de coordenação dos cursos, com os professores, com os currículos, e de organização da própria escola. Sempre gostei de partilhar o conhecimento. O trabalho com jovens é sempre um desafio. Provoca, questiona os teus conhecimentos e obriga a avançar mais para sustentares realmente aquilo que tu estás a ensinar. Para mim isso foi mesmo muito importante”, recorda.
O regresso de um sonho antigo
José Brás viveu primeiro em São Jorge de Arroios, depois em São Nicolau, e, por fim, no Bairro do Zambujal, onde conheceu os Missionários da Consolata. Este encontro despertou um sonho antigo. “Antes de entrar na faculdade em física já tinha pensado em ser sacerdote. Cheguei a avaliar essa situação. Pensei entrar no seminário, mas nessa altura acabei por tomar a decisão de fazer o curso. O facto de me terem dito na situação em que eu me encontrava o sacerdócio ainda era uma possibilidade fez com que voltasse tudo. Achava que já não era possível.”
José Brás não deixou apenas casa própria e o seu emprego onde era efetivo. “A música também é outra das minhas paixões. Toco guitarra. Sempre gostei muito e estava muito envolvido com a música. Mesmo sendo amador, eu por vezes tocava com músicos profissionais, em bandas, a animar festas como casamentos e bailes. Tinha projetos e várias ideias relacionadas com a música.” Neste contexto, a decisão de rumar ao sacerdócio surpreendeu a todos. “Ninguém esperava uma situação destas”, lembra, entre risos.
Aos 40 anos começou a viver em comunidade com outros religiosos. Depois de ter estado na comunidade dos Missionários da Consolata nos Olivais por um breve período, foi para Águas Santas, a partir de onde estudou filosofia na Universidade Católica do Porto, ao longo de dois anos. O noviciado aconteceu no Sagana, no Quênia. No noviciado “privilegiava-se muito o trabalho manual, agrícola, que eu nunca tinha feito. Os outros estavam em muita vantagem. Dominavam. Sabiam muito bem fazer aquilo. Comecei do zero. Senti-me bem junto com os outros. Foi dura a parte física do trabalho agrícola. Foi voltar quase a viver como um estudante, entre os outros.” Apesar da diferença de idades sempre que se adaptou. “Sempre me trataram com proximidade. Senti-me bem ao jogar futebol e na realização das atividades. Nunca me senti estranho nessas realidades. Considero que me inseri bem”, refere.
Missão junto às comunidades indígenas
Rumou ao Brasil a 1 dezembro 2016, onde esteve cinco anos. Fez teologia, estágio pastoral e foi ordenado diácono, a 1 de agosto de 2021. A sua experiência missionária foi desenvolvida em Roraima, na região de Raposa Serra do Sol, junto ao povo macuxi, uma comunidade indígena. “Além do trabalho religioso, também há um apoio na promoção humana que ali, muito concretamente, é a defesa da terra. É a questão dos garimpeiros. Isto é, quando há uma área em que sabem que têm minérios, como ouro ou diamantes, há gente que vai lá, de forma ilegal, em busca dessas riquezas. Essencialmente o ouro. Normalmente vão aos rios, revolver aquilo, e depois acabam a usar, para esse trabalho, o mercúrio, que acaba por envenenar todas as águas, as terras, um material que é muito perigoso. A atividade de garimpo acaba por afetar muito o ambiente, é muito prejudicial. Os garimpos são atraídos pelo ouro, e acaba por ir gente de todos os Estados. Por exemplo, na Terra Indígena Yanomami, estavam, no ano passado, mais de 20 mil garimpeiros, ilegalmente. Existiam já facções criminosas a fazer esse trabalho. Eu saí dentro deste contexto de tensão.”
Saiu de Roraima em dezembro, para a sua recente ordenação sacerdotal. “Já me sinto missionário da Consolata há muito tempo, mas com a ordenação sacerdotal é outro salto. Através da ordenação vêm outras responsabilidades. Há uma certa vertigem”, refere. Apesar de ainda não saber a região, José Brás sabe que ainda este ano partirá em missão para Moçambique. “Espero ser bem recebido, como em Roraima, onde há um grande sentimento de gratidão pelo trabalho dos missionários.
Acredito que em Moçambique exista esta mesma situação porque acho que os missionários têm trabalhado bem, ajudado muito. E as pessoas sentem e reconhecem isso. E, portanto, a situação pode ser muito difícil, não sei que realidade vou encontrar, mas Deus já está lá. Estarei com essas pessoas que certamente também me vão acolher”, disse o néo-sacerdote, que tem bem delineado o testemunho que pretende deixar.
“Desde que me tornei missionário que a minha ambição é sempre ajudar as pessoas. Quero ajudá-las a ultrapassar os seus medos, a lutar pela sua liberdade, por uma vida cada vez melhor, em todos os aspectos. É isso que me move