Comemoramos este ano, 25 anos da beatificação de José Allamano, fundador dos missionários e das missionárias da Consolata. Padre Claudio Cobalchini esteve em Roma naquele 7 de outubro de 1990 e retrata as emoções vividas.
Por Claudio Cobalchini *
Fotos: Arquivo Missioni Consolata
- Fatos e datas marcantes na vida de cada um, lembramos o contexto, circunstâncias; lembramos também as datas importantes vivenciadas na e com a família, a sociedade e a comunidade... Muito mais, ficaram gravadas em nós, não somente porque tomamos conhecimento, mas porque estivemos presentes e participamos... Em muitas pessoas, os fatos que lhe deixaram alguma cicatriz, causados por um sofrimento e dificuldade se sobressaem sobre os que deixaram a serenidade e a alegria...
- A Sagrada Escritura nos apresenta experiências assim, até mesmo detalhando a hora... Junto ao poço de Jacó, no encontro com a Samaritana “era quase meio-dia” (Jo 4, 6). “Já era mais ou menos o meio-dia”(Lc 23, 44); “no 1º.dia da semana, bem de madrugada..” (Lc 24, 1).
É meu desejo, tornar presente os momentos que marcaram a minha participação nas celebrações pela ocasião da beatificação do padre José Allamano, fundador da Congregação dos Missionários e das Missionárias da Consolata, fato este ocorrido justamente há 25 anos, em 7 de outubro de 1990, em Roma, Itália.
Foi a minha primeira viagem ao país, por benevolência do padre Serafim Marques, que ao ser anunciado o sorteio, daqueles que não entraram nos critérios colocados pelos superiores, caso seu nome saísse, me cederia o lugar; a ele sou e serei grato para sempre!
Vimos missionários e missionárias provenientes dos três continentes (Europa, África e América), narrando suas alegrias, experiências e esperanças; centenas de missionários, missionárias, leigos e leigas que bebendo da fonte inesgotável da santidade, vinham para celebrar; missionários anciãos que expressavam sua alegria, por ter doado toda a sua vida, seguindo as orientações do Allamano; missionários que tiveram a graça de conhecer pessoalmente o Fundador e terem sidos acolhidos por ele no Seminário; missionários e missionárias que depois de terem doado todas suas energias físicas na missão, se encontravam vivendo a mesma missão na
oferta do seu sofrimento e nas suas limitações; missionários e missionárias que acompanhando os formandos, procuravam fazer com que estes internalizassem os princípios e valores para se tornarem missionários(as) da Consolata, como o Allamano queria; missionários e missionárias leigos e leigos e amigos destes, sendo parte integrante nas atividades apostólicas doando a sua experiência profissional e meios para que o Evangelho fosse anunciado; jovens das missões onde trabalham os missionários, querendo ver e “saber” porque os mesmos trabalham em comunhão entre si, sendo verdadeiros irmãos, como numa família; querendo sentir o que os missionários manifestam por meio da devoção à Consolata; o saber e sentir, o por quê deste amor à Igreja, o por quê da centralidade na sua vida na Eucaristia; o por quê deixam com alegria, seus pais e familiares, sua terra e se doam sem por limites aos pobres, aos mais carentes... por quê não estão nos grandes centros, mas nas periferias das cidades.
Mas, também ouvimos a proclamação solene do papa declarando o Servo de Deus, padre José Allamano, como Bem-aventurado; a Praça de São Pedro explodir de alegria ao vermos a imagem do novo Bem-aventurado sendo descerrada; ouvimos soar aos nossos ouvidos o ritual da primeira Eucaristia celebrada em honra do novo Bem-aventurado na Igreja de Santa Maria Maior, a Igreja Mãe de Roma e partilhamos as experiências vividas nas atividades missionárias de tantos, que havendo deixado a sua pátria, se encontravam a mais de 40 e/ou 50 anos doando a sua vida, no desejo de cumprir a vontade de Allamano, de ir ou estar onde outros não podem ir. Para isso somos missionários(as).
Tudo foi marcante e por isso trazemos conosco, e isto nos anima e confirma no desejo de doar a vida até o final dos nossos dias. Conhecer o Santuáraio da Consolata em Turim, onde o Allamano foi pároco e onde tudo começou... A imagem de Santuário que levava comigo, até então era de algo grandioso, imponente, como o Santuário de Aparecida, padroeira do Brasil ou de Nossa Senhora de Luján na Argentina; o que me fez descobrir, que não devemos comparar, nem medir usando meios geométricos, pois as medidas de Deus são tão diferentes! E assim me deixei envolver pelo ambiente simples e acolhedor do Santuário... E foi justamente ali que nós fomos gerados no coração do Allamano. Ao conhecer o lugar onde o Allamano se recolhia aos pés da Consolata, imaginei vê-lo conversando amistosa e devotamente com Ela, o que demonstra sua devoção e por isso sempre atribuiu a ela o título de fundadora. Em todos estes pormenores, descobrimos como o humano se torna divino e o divino humano. E o divino em um ser humano, se aceito e encarnado pode transformá-lo em Santo.
Mas há algo que me deixou inquieto. Ao conhecer o túmulo onde se encontram os restos mortais do Allamano; ao permanecer ao lado do mesmo num momento de oração; ao deter-me em tal situação, surgiram perguntas assim: “como pode ainda hoje depois de tanto tempo, o espírito e o dinamismo missionário deste homem, ser capaz de envolver, de ser causa de tantas alegrias para os que se deixaram cativar por seu espírito e dinamismo missionário e, especialmente ser hoje apresentado como modelo de vida e de doação na construção do Reino de Deus? O ser humano já não, mas seu dinamismo missionário, seu amor à Igreja, a centralidade da sua vida na Eucaristia, seu espirito filial à Consolata, o desejo de que o Instituto fosse uma família, ainda hoje é procurado, perseguido por aqueles que querem levar dignamente o nome de missionários e missionárias da Consolata. Ao ser proclamado Bem-aventurado, seus princípios e ensinamentos se tornam presentes, por isso, hoje podemos invocá-lo dizendo: Bem-aventurado José Allamano, rogai por nós!
* Claudio Cobalchini, imc, é missionário em Feira de Santana, BA.