Padre Stefano Camerlengo é reeleito Superior Geral

Os Missionários da Consolata reelegeram hoje, 12 de junho, o padre Stefano Camerlengo, Superior Geral da Congregação para os próximos seis anos.

Por Jaime C. Patias *

pe. StefanoA eleição ocorreu, com maioria absoluta no primeiro escrutínio, durante o XIII Capítulo Geral, assembleia máxima da instituição, que se realiza em Roma, Itália, desde 22 de maio e se estenderá até 20 de junho.

O missionário italiano, natural de Morrovalle - Macerata, que ontem completou 61 anos, foi ordenado padre em 1984 na República Democrática do Congo, onde trabalhou na missão, formação e direção Regional. De 2005 a 2011 ele ocupou o cargo de vice superior Geral.

Fundado em 1901 pelo Bem-aventurado José Allamano na cidade de Turim, norte da Itália, o Instituto Missões Consolata (IMC) é hoje uma Congregação pluricultural e internacional com 982 missionários originários de 23 países e vivendo em 231 comunidades presentes em 28 países na África, América, Ásia e Europa.

Participam do XIII Capítulo Geral 45 missionários: 22 africanos, 15 europeus e 8 latino americanos, representantes de 18 circunscrições. A Assembleia capitular elege esta terça-feira, 13, os quatro conselheiros que formarão a Direção Geral da Congregação.

Áudio (Fonte: Rádio Vaticano)

Entrevista 

Futuro Missionário

Os missionários da Consolata espalhados pelo mundo são 982. Destes, 45 participam do XIII Capítulo Geral, entre os dias 22 de maio e 20 de junho de 2017, em Roma, capital da Itália.

Padre Stefano Camerlengo, Superior Geral há seis anos, falou à revista Missões, sobre as expectativas deste importante encontro e as perspectivas do Instituto Missões Consolata para os próximos anos.

Padre Stefano, o senhor poderia explicar ao leitor o que é um Capítulo Geral, a importância deste encontro para o Instituto, sua organização e quem participa?

O Capítulo Geral é uma pausa para reflexão sobre a situação do Instituto Missões Consolata, verificar o nosso modo de ser missionário Ad Gentes, recarregar as energias, descobrir novas modalidades de fazer missão e repartir com criatividade e prática espiritual, o entusiasmo missionário que é o coração da nossa vocação de consagrados para a Missão.

Presentes a este XIII Capítulo Geral estão 45 missionários, representantes de 18 circunscrições do Instituto, dos 28 países no mundo onde estamos presentes. Pela primeira vez, mais da metade dos participantes não são italianos. São 22 africanos, sendo dez quenianos, quatro congoleses, três tanzanianos, três etíopes, um moçambicano, um ugandense, 15 europeus, 10 italianos, três portugueses e dois espanhóis e oito latino-americanos, sendo três colombianos, dois brasileiros, dois argentinos e um uruguaio. Esta diversidade de nacionalidades é um sinal de interculturalidade, que foi desenvolvida aos poucos, mas que nos últimos anos tornou-se acelerada. Tudo isso é um sinal de esperança, num momento em que o grupo mais consistente de origem italiana está envelhecendo e se permite cuidar de uma missão que será diferente, mas nunca fora do objetivo traçado pelo Fundador. A interculturalidade e internacionalização do Instituto, bem representada no Capítulo, permite uma aproximação da Missão e enriquece o carisma do Allamano de novas perspectivas. Isso significa que a interculturalidade não oferece somente um crescimento quantitativo, mas contribui também e muito para a renovação qualitativa do Instituto.

O senhor está à frente do Instituto como Superior Geral há seis anos. Como avalia os desafios da Missão na atualidade?

A missão Ad Gentes, isto é, além-fronteiras, corre o risco de ser absorvida e confundida com as missões globais de todo o Povo de Deus, perdendo assim sua força profética. O XIII Capítulo Geral surge num momento da história do Instituto, podemos dizer crítico, num sentido positivo do termo, porque marcado por uma série de mudanças importantes e obrigatórias. Talvez nunca como hoje depois da temporada pós-conciliar, tivemos tantas mudanças na missão Ad Gentes. Sofre as influências de fenômenos culturais e históricos, dos quais nosso Instituto não está a salvo. A globalização, o pluralismo cultural e religioso, as migrações dos povos, os conflitos étnicos, o relativismo filosófico e teológico, a negação de Deus e dos valores religiosos, fenômenos típicos do mundo pós-moderno, incidem sobre o nosso modo de fazer missão.

Em muitos países, os missionários, sobretudo os provenientes do mundo ocidental, são vistos com certa desconfiança, pela suspeita que representam antigos esquemas de colonização. No interior da Igreja, porém, os missionários sofrem pela dificuldade de fazer interagir o seu carisma com aquele da Igreja local e pelo risco de serem absorvidos pela urgência pastoral de realizar o “primeiro anúncio”. Confrontando-se com todos estes questionamentos, os capitulares não devem se deixar abater pelo desencorajamento e pela síndrome da sobrevivência. O Capítulo não é para deixar-se abater pelas dificuldades e não deve decidir reduzir o empenho para fazer frente aos problemas do envelhecimento e pela previsível e progressiva diminuição dos missionários de origem italiana, não compensada pela entrada de jovens. O Capítulo deve desenvolver-se sob o signo da esperança e do otimismo e não deve deixar-se prender pela ânsia de eternizar o nosso Instituto missionário, mas impregnar nas comunidades locais a emergência da missão. A única preocupação deve ser de reencontrar a nossa vocação missionária específica.

Quais são as expectativas do Capítulo?

O Capítulo Geral deve apontar um novo modo de ser missionário. É chegado o tempo de uma missão mais discreta, humilde, solidária, propositiva, fundamentada sempre mais sobre o ser do que o fazer. De tudo que estamos vivendo e partilhando nos nossos encontros aparece sempre muito evidente que o tempo das obras grandes e imponentes passou. Parece que seja hora de abrir espaço a uma missão mais simples e mais espiritual, de dependência do Espirito Santo, fundamentada, sobretudo, sobre o testemunho. Esta transição não é simples de suportar, como pode parecer, porque exige uma conversão, uma autêntica mudança de visão. Essa mudança pode causar medo e incerteza, porque para renovar o modo de fazer missão deve-se renovar no fundo a maneira de viver e a motivação que está na sua origem. Em poucas palavras, precisamos de uma espiritualidade adaptada a este momento. Creio que este deva ser o primeiro aspecto a ser considerado no nosso Capítulo. Precisamos recuperar e tornar concreta nossa espiritualidade missionária.

Qual deve ser o diferencial do missionário da Consolata?

Por que somos da Consolata? Uma pergunta intrigante que nos faz sair do estereótipo do ser missionário tradicional, baseado no fazer, para nos reconduzir ao nosso encontro com Jesus Cristo e com seu Espirito que é o protagonista da Missão. A espiritualidade missionária é alicerçada na força do Evangelho, sob nosso carisma e tradição, sobre a cristologia e teologia atuais, é esta a força propulsora da vocação e do seu autêntico carisma. O Capítulo não deve ter a preocupação de elaborar um belo documento. Creio que devamos ser capaz de vencer esta tentação intelectualista e de trabalhar para que a nossa missão tenha um coração com pés e mãos. Que o Capítulo nos recorde quem somos: consagrados para a missão Ad Gentes, sentinelas da aurora, pessoas incansáveis e cheias de esperança, testemunhas da ternura de Deus em meio aos últimos, aos marginalizados, àqueles que não tem vez nem voz, aos empobrecidos, para sermos sinais luminosos e próximos de libertação e salvação.

Somos chamados a ser missionários santos, com um alto nível de espiritualidade e de oração, com uma fidelidade cotidiana à Eucaristia, com a escuta da Palavra de Deus, estando junto com as pessoas. Devemos ser missionários consoladores porque somos consolados. Missionários que vivem a missão na contemplação e na comunhão, numa comunidade intercultural. A dedicação total à missão deve permear nossa espiritualidade. Missionários respeitosos e atentos às culturas, que se aplicam ao estudo da língua, que não julgam, que deem atenção ao diálogo intercultural e interreligioso, a nível pessoal e comunitário. Missionários que com humildade e com lucidez se entregam ao serviço do crescimento e de afirmação da Igreja local, aceitando generosamente lugares em segundo plano, evitando o protagonismo. Missionários que vivam a missão na simplicidade e pobreza, que procurem pela reciprocidade, a qualidade das relações e da escolha de meios pobres que não criem dependência. Missionários que se proponham a viver a missão na solidariedade e na gratuidade, procurando ser pobre com os pobres. Missionários que se inspiram na Consolata, nossa Mãe, modelo de vida evangélica, fraterna e apostólica.

Publicada na Edição de Junho da Revista Missões
* Jaime C. Patias, IMC, Comunicação XIII Capítulo Geral