Primeiro santos, depois missionários

Novena em preparação para a festa do Bem-aventurado José Allamano celebra a Missão e a consolação.

Por Michelangelo Piovano *

A festa do Bem-aventurado José Allamano é sempre comemorada no dia 16 de fevereiro e nas comunidades dos missionários espalhadas ao longo do país são realizadas novenas, antecedendo a data.

Em Boa Vista, RR, não foi diferente. A cada dia na celebração da missa, um missionário partilhou uma pequena reflexão sobre a Palavra de Deus e Allamano, ou a vida da missão.

Uma novena que foi além da devoção e da intercessão, foi também celebração da vida e da missão. Rezamos juntos com todas as comunidades do Instituto para que possamos levar para frente o processo para o reconhecimento da cura milagrosa do indígena Sorino Yanomami pela intercessão do Bem-aventurado José Allamano, mas foi também um celebrar a missão, vivida na vida dos missionários e nas suas comunidades de trabalho, iluminados pela Palavra de Deus.

Ao longo dos dias, ouvindo as várias reflexões e testemunhos, percebemos como o Allamano, através de seus filhos e filhas, continua fazendo milagres em favor da vida, da saúde, da educação, da justiça e de uma vida renovada pela força do Evangelho.

De qualquer forma, a cura milagrosa de Sorino aparece como a expressão mais alta e bela daquele milagre contínuo que ele faz através dos seus missionários e de suas missionárias. Milagre que vem do carisma da "consolação" que nos foi confiado como tesouro precioso e que nossa Mãe Consolata nos ajuda a realizar onde estivermos.

Estando em Boa Vista e visitando também algumas destas missões, me dei conta desta ação de Deus através destes missionários brasileiros e de outros, vindos de países diversos e que entregaram suas vidas para esta missão no coração da Amazônia, sobretudo para a causa indígena. Há missionários jovens, ainda estudantes que estão no ano de serviço e que vão ficar um ano numa comunidade indígena antes da ordenação sacerdotal, há jovens sacerdotes, junto com outros com mais experiência de missão, seguindo a vida das comunidades e acompanhando no caminho de fé e de vida cristã. Há quem esteja com o povo Yanomami na Missão Catrimani, ficando meses e até um ano no meio na floresta para estar junto com eles através de uma presença feita de testemunho, de escuta e vida no dia a dia. Há jovens indígenas macuxi que estão na formação, respondendo ao chamado de Deus à vida religiosa e missionária.

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Centro de Documentação Indígena

Em Calungá, na capital do estado, onde está também a sede dos missionários da Consolata, foi iniciada a construção de um Centro de Documentação Indígena (CDI), porque há décadas os missionários presentes em Roraima preservam a memória do seu trabalho com os Povos Indígenas com os quais tiveram ou têm contatos. Isto compõe hoje a maior parte do acervo do CDI, que desde 2012 começou a ser organizado e disponibilizado. Trata-se de escritos, publicações, audiovisuais, revistas, jornais e fotografias. O Irmão da Consolata, Carlo Zacquini, que curou o acervo está acompanhando a construção desse Centro que vai acolher e disponibilizar toda esta riqueza.

* Michelangelo Piovano, imc, é membro da Comissão para canonização do Bem-aventurado José Allamano.

Veja Entrevista com Padre Michelangelo Piovano

O padre Michelangelo Piovano, missionário da Consolata que trabalhou no Brasil por muitos anos e há 15 estava na Europa, veio ao país para participar da Comissão criada para dar início ao processo de canonização do Bem-aventurado José Allamano.

A Comissão foi formada a pedido do bispo de Roraima, dom Mário Antônio da Silva e já deveria estar agindo, porém, em virtude da pandemia, o postulador da causa, duas irmãs e uma médica que viriam da Europa tiveram seus voos cancelados e não conseguiram chegar ao Brasil. A previsão para o início dos trabalhos é março. Allamano está sendo apontado como responsável pela cura de Sorino Yanomami, o que se for confirmado, poderá elevá-lo à condição de santo.