Pe. Stefano Camerlengo envia mensagem aos missionários da Consolata por ocasião da festa do Fundador.
Por Stefano Camerlengo
Mensagem do Superior Geral dos Missionários da Consolata, padre Stefano Camerlengo, na festa do Bem-aventurado José Allamano, 16 de fevereiro.
Caríssimos missionários,
o mês de fevereiro é para todos nós um mês esperado e querido, porque reencontramos e reforçamos a nossa fraternidade, na memória daquele que é para nós “pai” e que festejamos com afeto e solenidade no dia 16 de fevereiro. Sim, sentimos o Allamano mais próximo porque, como ele mesmo dizia, "espero, quando morrer, tornar-me o vosso protetor no Céu". Confiemo-nos, então, mais uma vez à sua intercessão, para que abençoe o trabalho dos nossos missionários, sobretudo de todos aqueles que vivem em situações particularmente duras e difíceis ou que, neste ano, terão a atenção da Igreja, como é o caso dos nossos missionários da Amazônia.
E, é belo pensar que, em cada ano, exatamente na celebração do seu “dies natalis”, o Fundador tenha alguma coisa de particular para nos dizer, alguma coisa que o preocupa muito e para a qual quer chamar a nossa atenção de filhos. Este ano, poderia ser, talvez, a pequena frase que escrevi na Apresentação das Atas do XIII CG: "O Capítulo lembra-nos aquilo que somos e convida-nos a assumi-lo em plenitude: consagrados para a Missão Ad Gentes".
Já agora, gostaria de convidar cada um de vós a fazer memória, isto é, a nunca esquecer que de fato somos missionários, mas que também somos, segundo o projeto do Allamano, “consagrados” na profissão dos votos religiosos. E, é o próprio Capítulo que nos lembra isso mesmo: "É imprescindível confrontarmo-nos com os votos que professamos. Para nós, consagrados para a missão, a santidade e a integridade da nossa pessoa exprimem-se aqui.
Um coração casto, é um coração que exprime um amor desinteressado; uma vida pobre, é aquela que não se deixa seduzir pelos bens, mas pelo Único Bem; uma pessoa obediente, é aquela que não é subjugada pelos outros, mas que põe toda a própria vida ao serviço do próximo e por isso vive a liberdade dos filhos de Deus" (XIII CG 17).
Também a nossa Bem-aventurada Irmã Leonella, nossa protetora para este ano, em peregrinação ao túmulo do Allamano, exatamente no dia 16 de fevereiro de 2006, escrevia no seu diário: "Pai eis-me aqui, passados 80 anos da tua entrada no Paraíso! Homem de Deus, Homem fiel, Homem do único
Deus. Tu não tiveste medo de seguir o Senhor pelo caminho da sequela. Eis-me aqui, apoiada ao teu túmulo…. Tu santo Fundador da minha Família. Aqui, sobre este túmulo de glória, eu te imploro: Dá-me a graça da sequela verdadeira, da perseverante sequela; faz com que possa doar na verdade a minha vida com Ele, todos os dias, momento após momento, com fidelidade, verdade, em reciprocidade… união total. Concede-me esta graça, cumpre este milagre. É este o dom que te peço; ser verdadeiramente tua filha na sequela de Cristo. Unida a Jesus Eucaristia, aqui me consagro nas tuas mãos, renovando os meus votos ao Senhor".
Mas, o que é que significa para nós, hoje, redescobrir e viver na fidelidade, a nossa consagração religiosa, definida pelo Allamano: "um estado de perfeição… um novo Batismo, um holocausto superior a qualquer sacrifício"? (Assim vos quero, 102). Ofereço apenas alguns tópicos, simples e concretos…
1. "A vida consagrada nasce e renasce do encontro com Jesus, assim como é: pobre, casto, obediente". A expressão do papa Francisco, traz-nos à mente uma realidade que o Capítulo, assim como a sucessiva Programação, nos serviu com todo o tipo de tempero: o primado de Deus, o partir novamente de Cristo, o apaixonar-se de Jesus, ou seja "o conhecimento d’Ele em profundidade, assimilação do seu pensamento, acolhimento sem esquivar às exigências mais radicais do Evangelho" (cf. Carta da D. G. aos missionários jovens). Portanto, somos pessoas que respondem à iniciativa do amor de Deus, com uma resposta de “verdadeiro amor”, sem “se” nem “mas”…
2. A vida consagrada, acolhida assim, não obstante a nossa fragilidade e as possíveis traições, pode tornar-se, então, a solução à “parálise da normalidade” para se abrir ao “cotidiano incômodo da graça”, é sempre o papa Francisco a falar; é o modo para não nos deixarmos subtrair por uma vida asfixiante, habitudinária, óbvia e para nos abrirmos ao novo, ao inédito, ao imprevisível…
3. Se a vida consagrada for vivida seriamente como sequela Christi, preservar-nos-á também da tentação da sobrevivência: um mal que se pode instalar pouco a pouco dentro de nós e nas nossas comunidades.
"A atitude da sobrevivência, faz com que nos tornemos reacionários, medrosos, faz com que nos encerremos lentamente e silenciosamente nas nossas casas e nos nossos esquemas. Lança-nos para trás, em direção aos feitos gloriosos do passado, que, em vez de suscitar a criatividade profética que nasceu dos sonhos dos nossos fundadores, procura atalhos para escapar aos desafios que hoje batem às nossas portas. A psicologia da sobrevivência enfraquece o nosso carisma, porque nos leva a domesticá-lo, a fazer com que esteja “ao nosso alcance”, mas privando-o daquela força criativa que tinha no início…
A tentação da sobrevivência, faz-nos esquecer a graça, torna-nos profissionais do sagrado, mas não pais, mães ou irmãos da esperança, que somos chamados a profetizar. Este clima de sobrevivência, que endurece o coração dos nossos idosos, privando-os da capacidade de sonhar e, dessa maneira, esteriliza a profecia que os mais jovens são chamados a anunciar e a realizar. Em poucas palavras, a tentação da sobrevivência transforma em perigo, em ameaça, em tragédia aquilo que o Senhor nos apresenta como uma oportunidade para a missão" (Papa Francisco, Homilia para o Dia Mundial da Vida Consagrada, 2 de fevereiro de 2017).
4. Depois, a nossa consagração religiosa tem uma finalidade obrigatória, a da santidade, que constituía o “pensamento principal, a constante preocupação” do nosso Fundador: «De facto, não chega ter recebido da parte de Deus, uma vocação particularíssima… é necessário valorizá-la, caminhando na perfeição que ela exige. Eis, portanto, o nosso ideal: tornarmo-nos santos, grandes santos, rapidamente santos» (Assim vos quero, 1). E, permito-me acrescentar, “santos novos”. Hoje, talvez, ser santos já não chega, é necessária a santidade que o momento presente exige. De fato, Deus faz nascer em cada época santos e santas aptos para aquele tempo, para este nosso tempo. «Um novo tipo de santidade é algo perturbador, é uma invenção. Feitas as devidas proporções, é mais ou menos análoga a uma nova revelação do universo e do destino humano. Significa trazer à luz uma larga porção de verdade e de beleza até aqui dissimuladas por uma grande camada de poeira. Somente uma espécie de iniquidade pode obrigar os amigos de Deus a renunciar à sua obtenção, pedindo-a ao próprio Pai, em nome de Cristo. E é um pedido legítimo, pelo menos hoje, porque necessário. Creio que seja o primeiro pedido a fazer agora, a fazer todos os dias e a todas as horas, assim como uma criança faminta pede incessantemente um
pedaço de pão» (Simone Weil).
Por isso rezamos, sustentados pela intercessão do nosso Fundador:
Pai nosso que estais nos céus:
inspira a nossa comunidade missionária
para que espere, invoque, prepare a vinda do teu Reino.
Concede-nos de sermos pobres, puros, obedientes, livres, felizes e unidos,
para que não nos fechemos nos nossos medos e fragilidades,
mas que sejamos ardentes no desejo de partilhar a graça do Evangelho.
O amor que nos une, a sabedoria e a fortaleza do Espírito,
a audácia no saber perder para encontrar a vida,
a doce presença da Consolata
tornem intensa a alegria, corajoso o caminho, límpido o testemunho
para anunciar que a terra está cheia da tua glória
e que as sementes do teu Reino continuarão a florescer.
Boa festa a todos e a cada um de vós, bom caminho de santidade, como consagrados para a Missão!
Fraternamente, Coragem e Avanti in Domino!